Meu Deus, já é Segunda-Feira e eu nem me liguei! Galera, desculpa o sumiço dessa semana. Vocês sabem o que é um bloqueio mental não é? Então eu tive que conviver com um desses essa semana e não achei nada de útil, pra escrever, ou falar sobre. Enfim, meu fim de semana foi agitado, fiquei 48h acordada direto, espero que me perdoem, aos poucos vou tentando retomar ritmo 🙂
Como prometido, hoje tem mais um conto do Projeto Um conto por amor. O conto de hoje é do queridíssimo Fábio Martins. Um homem que admiro muito por sua incontestável inteligência! Espero que gostem e semana que vem tem mais!
Ulysses sempre fora controlador. Controlava o horário de saída, de chegada, seus compromissos e de todos aqueles que estavam ao seu redor. Até os horários de sua namorada ele controlava. Esta mania de controle somada ao incontrolável ciúmes, causaram-lhe o término de um namoro de 7 anos – primeira parte -. Se não fosse as repetidas vezes que isso acontecera, Ulysses, hoje, estaria noivo de sua antiga namorada.
Tanta insegurança, agora, transformará-se em descontrole, raiva, e certeza de que ela nunca o amara. Para Ulysses, os sete anos de namoro foram de pura mentira.
Apesar das certezas que tinha, ele sempre fora aconselhado pelos seus melhores amigos a deixar suas inseguranças de lado. Eles tentavam explicar que, tudo aquilo, um dia, ainda seria sua ruína, quiçá até de seu namoro. Mas ele não dava ouvidos, tinha certeza de ela o amava; mesmo com suas manias, ela o amava verdadeiramente. Porém, seu castelo fora levado pelas ondas incontroláveis de seu ciúmes. Agora, Ulysses estava sozinho, triste, amargurado e completamente determinado a nunca mais abrir seu coração a outro relacionamento.
Sua primeira atitude foi afundar seus pensamentos no emprego que tanto lutara para conseguir, atirando-se de corpo e alma nos pequenos detalhes, resolvendo os problemas quando ninguém conseguia achar a solução, alcançando, até, uma promoção, muito merecida, dizia seus colegas.
No entanto, sempre que havia uma folga, a raiva e o descontentamento o consumiam, traziam de volta aquele sentimento que escondera com tanta afinco, um sentimento de vazio, de saudade. Sem nem mesmo saber o que ela representava, imaginou que seria saudade das noites de bebidas, jogos e baladas que há tempos não compartilhava com seus amigos, que deixara de lado durante o namoro. Coisas que pareciam desnecessárias quando estava com sua amada, porém, que agora se mostraram completamente lógicas e necessárias.
Movido, assim, pelas antigas lembranças, pegou o telefone e discou o número de um de seus melhores amigos.
– Alô, Rodrigo?
– É ele. – respondeu com um ar de incerteza. – Quem está falando?
– Como assim, meu velho? Sou eu, o Ulysses. Vai dizer que não se lembra mais?
– Tá me zuando? É tu mesmo, meu “brother”? – respondeu animado.
– É, quem é vivo sempre aparece, não é? – dizia, tentando puxar assunto.
– Verdade! Mas o que me conta? – perguntou. – Faz tempo que não conversamos.
– Nem me fale!
– Fiquei sabendo que tu terminou aquele namoro. Como você está?
– B-bem, bem. E você? – tentando desconversar.
– Cara, segui o teu conselho! – animado, disse. – Resolvi dar uma chance a Carol. E advinhe?!
– Também foi largado? – respondeu rindo.
– Não! Muito pelo contrário, vamos oficializar o noivado no próximo final de semana!
Ulysses permaneceu em silêncio por alguns minutos.
– Ulysses, está aí? Alô?!
– Sim, estou aqui… Poxa, que bom! Meus parabéns, Rodrigo. Espero que sejam felizes.
– Poxa, obrigado! Aliás, tu tem que conhecê-la! Tenho certeza que você irão se dar bem!
– Claro! – disse. – Podemos marcar alguma coisa, sim.
– Perfeito! No próximo sábado vamos fazer um jantar aqui em casa, seria muito bom tê-lo aqui conosco.
– Sábado?
– Sim! Aqui em casa. O que me diz?
– Passarei para cumprimentá-los!
– Que bom! Ficarei muito feliz em revê-lo!
– Eu também. – respondeu com uma certa melancolia na voz.
– Ulysses, meu velho, tenho que correr com as coisas, estamos correndo com o bufê e outros detalhes. Mas foi bom falar contigo!
– Sem dúvida.
– Então, até sábado! Abraços, meu velho!
– Até… abraços.
Por essa Ulysses não esperava, ainda mais vindo de Rodrigo que nunca se interessou por nenhum relacionamento, muito menos por um noivado ou, se quer, por um casamento.
Frustrado, mas ainda esperançoso, procurou o telefone de outro amigo, e fez a ligação.
– … telefone temporariamente fora de ser serviço. – respondia a telefonista.
Procurou outro, mas a história se repetia. Alguns estavam namorando, outros noivos e um somente um estava solteiro, mas afastado do mundo, pois estava cuidando de seu pai doente, impossibilitado para uma noite das antigas.
Já com quase toda a lista de amigos riscada, Ulysses havia perdido as esperanças, suas lembranças, agora, ficariam, realmente, guardadas em memórias, em fotos ou em conversas de bar, acompanhadas por alguma bebida qualquer.
Sem conseguir pensar em mais nada para fazer e cansado de ficar em casa, pegou as chaves do carro e saiu rumo ao bar mais próximo de sua casa. Ulysses pensava que se não pudesse ter seus amigos em sua casa, iria, então, encontrar novos amigos em um bar qualquer, nem que fosse por poucos minutos.
Ao chegar no bar, foi logo pedindo uma dose de whisky para relaxar, pois, como era sábado à noite, nada melhor do que alguns goles, papo jogado fora e atrações aleatórias na televisão para relaxar – pensou.
As horas seguintes foram repletas de bebidas e tudo o que ele havia imaginado, alguns amigos descartáveis lhe fazendo companhia, ajudavam-no a esquecer, mais uma vez, aquele sentimento guardado.
– Bebida para todos! – gritou.
Ainda empolgado com a promoção, pagou uma rodada de bebidas para seus colegas. Atitude que angariou mais e mais colegas, alguns até simpáticos, mas a grande maioria só estava interessada em sua animação.
O que parecia ser somente uma noite de descanso, virou uma rotina para Ulysses. Sextas, sábado e domingos Ulysses buscava descanso em um copo de bar, com colegas diversos, mulheres avulsas e despreocupadas, procurando saciar sua vontade de companhia; algumas vezes em bares, outras em casas de prostituição, continuando com essa vida boemia durante alguns meses.
Seus amigos tentavam ajudá-lo, ligavam pra saber se estava tudo bem, se precisava de alguma coisas, pois, suas atitudes não eram o normal. Mas Ulysses estava cansado daquele controle todo, queria se libertar da vida que tivera antes; uma vida repleta de horários e programações, queria era aproveitar ao máximo tudo o que não havia aproveitado durante os sete anos de namoro. Até sua ex-namorada, quase noiva, tentara um contato, mas Ulysses não lhe dera atenção, ainda guardava muita mágoa pelo amor não correspondido.
E foi assim, seguindo de bar em bar que Ulysses viu o mundo desmoronar a seus pés, sem nem ao menos perceber; primeiro sua namorada o havia deixado, depois seus amigos, agora nem seus colegas de bar lhe davam atenção. No trabalho, as coisas já não eram mais como antes, sua atenção havia diminuído, seus resultados precisavam sempre de revisão, sua promoção estava por um fio. Tudo o que ele havia lutado tanto, agora, já não trazia mais prazeres; ele era um completo vazio, onde seu último ato de honestidade foi pedir demissão, deixando pra trás tudo aquilo que havia conquistado.
Sua vida estava resumia a noites em claro, garrafas de whisky e filmes adultos. O almoço e o jantar estavam enlatados no primeiro armário do segundo gabinete da cozinha. Suas roupas acumulavam-se em pilhas, junto à cama. Suas noites de solidão, deram lugar a mais um companheiro: o cigarro. Fumava descontroladamente um atrás do outro.
A vida que Ulysses levava chamou atenção de seus vizinhos, até os mais desatentos notaram seu sumiço. Uma excelente pessoa, diziam. Ouvia-se nos corredores, comentários sobre seu estado, alguns diziam que ele estava doente, outros concluíam que era depressão, mas ninguém tinha certeza do que estava acontecendo.
Em uma noite, quando já havia consumido todo o estoque alcoólico que havia em sua casa, buscou as escadas para poder caminhar na rua, talvez para procurar algo para beber, que por um descuido causado pela embriagues, escorregou, caiu e batendo a cabeça um dos degraus, entrando em coma quase que instantaneamente, tendo somente um momento de lucidez, no qual conseguiu gritar por socorro antes que fechasse os olhos.
Ao chegar no hospital, Ulysses foi examinado pelos médicos, informando os poucos familiares, que seu estado não era grave, mas devido ao coma, não havia como dar certeza se ele sofrera algum problema significativo.
A preocupação de sua família era que algo de pior acontecesse, pois casos de coma, às vezes, eram irreversíveis. Porém, apesar do que todos pensavam, em seu estado de coma, Ulysses teve um sonho, um único sonho estranho.
Nele, Ulysses aguardava uma fila interminável, que levava a um único objetivo: servir de cocheiro para uma carruagem. Era como se houvesse apenas um emprego para todos, o emprego de cocheiro de carruagem. Quando a vez de Ulysses chegou, um senhor alto, de barbas acizentadas, olhou para ele e disse:
– Terás que conduzir esta carruagem até que seu cavalo morra.
Sem possibilidade de diálogos, Ulysses fez o que lhe foi ordenado, conduzindo a carruagem até que seu cavalo parasse. No entanto, sempre que isso acontecia, Ulysses encontrava-se, novamente, diante da mesma fila que antes, repetindo o mesmo ritual de antes.
Assim que acordou do coma, Ulysses não conseguia parar de pensar no sonho que tivera. Aquela obsessão fez com que parasse com a vida boemia, buscando em livros e psicólogos alguma explicação racional para tudo aquilo. Mas de nada adiantava, a explicação deveria partir dele, segundo alguns especialistas.
Cansado de tanto procurar, deixou de lado aquela curiosidade, e tentou colocar a sua vida nos trilhos, novamente. Seu primeiro passo foi arrumar um novo apartamento, depois um trabalho que, apesar de não ser tão lucrativo quanto o antigo, dava para pagar as contas, sem exigir tanto de seu tempo. Até as antigas amizades ele havia retomado, podendo, finalmente, conhecer a esposa de Rodrigo.
Sua vida estava, novamente, nos trilhos, apesar de ainda ter uma única dúvida: o significado do sonho.
Em uma determinada noite, feliz por ter de volta a sua vida, Ulysses acabou adormecendo no sofá de seu novo apartamento, vindo a ter aquele antigo sonho. Porém, diferente do anterior, não havia mais fila para a carruagem, muito menos um velho indicando o que fazer. Neste sonho só havia Ulysses e a carruagem, nem mesmo o cavalo estava presente.
Como se soubesse o que fazer, Ulysses abriu a porta da carruagem e encontra dois objetos sobre o banco: um relógio quebrado e um envelope. Ao ver o relógio, Ulysses, automaticamente, lembrou de sua antiga vida, onde os horários eram algo primordial. Porém, foi dentro do envelope que Ulysses encontrou a resposta de seu sonho.
Em um pequeno pedaço de papel, escrito à mão, que Ulysses logo reconheceu a caligrafia, pode ler o seguinte:
Obrigado por me conduzir.
Assinado Ulysses.
Projeto Um Conto por Amor.
Beijos,
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